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SOJA

Matéria Publicada em: 03/03/2023

MAIS DO QUE QUANTO O BRASIL VAI COLHER, MERCADO MONITORA COMO TODA ESSA SOJA SERÁ ESCOADA



Ainda é cedo para falarmos em uma safra de 150 milhões de toneladas ou mais do que isso.

"Ainda é cedo para falarmos em uma safra de 150 milhões de toneladas ou mais do que isso", acredita o presidente da Aprosoja Brasil, Antônio Galvan. Em entrevista ao Notícias Agrícolas, Galvan afirmou ainda que esta será, de fato, uma safra recorde, porém, com problemas. "E neste momento estamos registrando problemas em quase todas as regiões do Brasil", complementou, citando consequências do excesso de chuvas ou da falta delas. Embora os números que serão alcançados sejam altos, não serão aqules inicialmente projetados. 

Em Mato Grosso, maior estado produtor de soja do país, o cenário parece ter se estabilizado, mesmo que parcialmente, e a colheita se recuperou de forma muito consistente. Até a última sexta-feira (24), os trabalhos de campo alcançaram 76,27% da área, de acordo com os números do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), de uma safra que pode alcançar 42,8 milhões de toneladas. Em algumas análises privadas, a produção do estado é estimada em 44 milhões. 

No entanto, segundo relatou o presidente da Aprosoja Brasil, Mato Grosso poderia ter médias de produtividade ainda melhores caso não fosse as chuvas frequentes em algumas regiões, bem como a anomalia do quebramento da haste, que acometeu muitas lavouras no estado e tirou bastante da produtividade. "Ainda assim, são médias muito altas, mas essa anomalia tirou bastante da soja. No começo parecia que este ano seria um ano melhor". 

A liderança ainda falou sobre a necessidade de monitoramento dos efeitos do excesso de chuvas no Tocantins, Paraná e Mato Grosso do Sul. Produtores locais já relatam, inclusive, alagamentos em diversos pontos, provocando perdas, princiaplmente, de qualidade da soja que fica no campo por mais tempo do que o necessário. 

De acordo com os últimos dados da Pátria Agronegócios, a colheita da soja no Tocantins chega a 31,9% da área, contra 45,1% no mesmo período do ano passado; no Paraná são 28,6% contra 41,5% na comparação anual e no Mato Grosso do Sul a área colhida chega a 27,1%, ainda distante dos 41% de 2022, neste mesmo período. 

A consultoria apontou ainda que, da área total, 35,79% já foram colhidos, também apresentando um atraso em relação à safra anterior, quando o índice passava de 44% neste mesmo período. E o atraso já causa preocupações em relação ao plantio da safrinha de milho. 

"O ritmo de 2023 caminha em linha com a média dos últimos cinco anos, mantendo atrasos frente a 2022. Assim, a janela de plantio da segunda safra aponta para alto risco climático para produção de milho em 2023", explica Matheus Pereira, diretor da Pátria.

Em sua última entrevista ao Notícias Agrícolas, nesta segunda-feira (27), Pereira destacou que a Pátria já não estimava uma safra de soja brasileira na casa das 150 milhões de toneladas. "Nossa equipe de inteligência nunca estimou a safra em 150 milhões, sempre com números um pouco abaixo, porque desde o começo víamos a possibilidade do excesso de chuvas sendo um problema durante a colheita, mas também a falta delas no Rio Grande do Sul que traria esses cortes agressivos que nossos compatriotas gaúchos estão sofrendo agora". 

Assim, o último número da Pátria é de 148 milhões de toneladas. E por ser este um número recorde precisa se cruza com os dados da demanda. "E a demanda mundial por soja também está em patamares recordes. Ou seja, qualquer redução na oferta gera esse suporte aos preços. O problema do Brasil hoje é a logística. Então, não conseguimos nos beneficiar por esse mercado internacional altista que temos vivido em Chicago", explica. 

Pereira complementa dizendo ainda que do Paraná ao Tocantins, 'somente' nesta faixa, o Brasil produz cerca de 120 milhões de toneladas, o que é muito mais do que o país todo produzia há cinco anos. E ao mesmo tempo, no mesmo intervalo, a infraestrutura logística não acompanhou este crescimento. 

A preocupação do analista e de demais especialistas ouvidos pelo Notícias Agrícolas  é a mesma do presidente da Aprosoja Brasil. "Os gargalos logísticos são nossa principal preocupação. Há navios parados nos portos por falta de produto, os fretes subindo muito, as estradas muito ruins. Está tudo parado e não sabemos como esse novo governo vai tocar o assunto". 

Galvan afirma que a tendência é de que o Brasil continue ampliando sua produção, expandindo seus potenciais, inclusive pelo papel que exerce no contexto da segurança alimentar global e na exigência da demanda global pelos alimentos brasileiros. Assim, o que o setor esperaria é ver um planejamento mais consistente e eficiente para a infraestrutura logística brasileira, do pós colheita e foco na capacidade estática de armazenagem ao embarque da produção nos portos do país. 

Um estudo feito pelo Grupo de Pesquisa EsalqLOG mostrou que mudanças efetivas viriam com investimentos equivalentes a, aproximadamente, 2% do PIB por alguns anos. Thiago Guilherme Péra, coordenador do grupo, ao Notícias Agrícolas afirmou que o momento é, de fato, de déficit em todas as etapas do campo ao escoamento neste momento diante desta super safra. 

"O que temos que fazer para que o país esteja melhor em 10 anos é investimento. Investir em infraestrutura logística como um todo, em modais mais eficientes como ferrovias e hidrovias, mas sem nos esquecer do transporte rodoviário, que é muito importante e que muitas vezes não recebe investimentos que sequer repõem a sua deprecição. Além disso, precisamos investir notoriamente em capacidade de armazenagem", detalha Péra. 

A capacidade de armazenagem hoje no Brasil varia de 70% a 80% de sua produção, isso no agregado geral, e quando se analisa detalhadamente as regiões de maior produção o déficit, naturalmente, se torna ainda maior e mais evidente. 

E são investimentos como estes que tornarão o Brasil cada vez mais competitivo, como há muito já se projeta. "Se o país estagnar agora, estaremos piores em 10 anos. O importante é que os investimentos em infraestrutura ocorram em uma taxa mais acelerado. O crescimento da infraestrutura logística no país deve ser superior ao crescimento da nossa produção agrícola. Do contrário, ficaremos cada vez mais deficitários", complementa o coordenardor da EsalqLOG.

Diante de dificuldades tão visíveis, é compreenível também pelo setor produtivo, por exemplo, preços tão elevados dos fretes neste momento, ainda como relata Antônio Galvan. No entanto, é sabido que é destas despesas que saem boa parte da margem de renda do produtor brasileiro, em especial os que estão em regiões mais distantes dos portos ou de indústrias processadoras, no caso da soja. 

"Os caminhoneiros vinham reclamando e agora os fretes passam a remunerá-los. Mas as mudanças nos modais logísticos têm que acontecer. Peso e volume, eu sempre disse, não é no 'lombo do caminhão'. Deve ser escoado por ferrovias, por hidrovias", afirma o presidente. Recentemente, a Hidrovias do Brasil colocou em prática uma operação com 35 barcaças - dez a mais do que o comboio tradicional - com destino ao porto de Barcarena, no Pará, transportando 70 mil toneladas de grão. 

Cada caminhão, por vez, transporta cerca de 37 toneladas. 

Assim, mais do quanto o Brasil vai colher, o mercado que saber agora é como o Brasil vai escoar toda essa soja. Os prêmios nos portos do país já têm refletido toda essa preocupação. O gráfico da Agrinvest Commodities reflete essa situação:

Como explicou o analista de mercado Marcos Araújo, da Agrinvest, há uma combinação de fatores que motiva o surgimento deste momento. "Trata-se do quadro de oferta e demanda local, o ritmo de venda do sojicultor, o lucro do sojicultor, os custos da logística interna -  e um atraso no embarque portuário". 

O acompanhamento dos preços na Bolsa de Chicago e do dólar, além dos prêmios, portanto, não será mais suficiente. A volatilidade nos custos logísticos e a capacidade esgotada da infraestrutura terão de entrar na conta e no monitoramento diário do produtor brasileiro. 

Fonte: Notícias Agrícolas

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