O dólar abandonou ganhos iniciais e caía contra o real nesta segunda-feira, com investidores avaliando novas indicações sobre os próximos passos do Banco Central, depois que a leitura de março do IPCA surpreendeu para cima e colocou em xeque a perspectiva de encerramento do ciclo de aperto monetário em maio.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira que a alta de 1,62% dos preços ao consumidor em março, maior aumento para o mês em 28 anos, foi uma surpresa e que a autarquia está aberta a analisar o cenário se houver algo diferente do padrão. Seus comentários vêm depois de repetidas indicações de que o Banco Central estacionaria a taxa Selic em 12,75% em maio, ante patamar atual de 11,75%.
Na esteira da fala de Campos Neto, as taxas dos principais DIs saltavam de 20 a 28 pontos-base na curva de janeiro de 2023 até janeiro de 2027, estendendo altas acentuadas registradas na sexta-feira, quando a leitura do IPCA intensificou apostas de que o Banco Central será forçado a promover altas na Selic para além da reunião do mês que vem.
Às 10:21 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,34%, a 4,6960 reais na venda. Mais cedo, a moeda chegou a subir 0,61%, a 4,7404 reais.
Na B3, às 10:21 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,14%, a 4,7175 reais.
Juros mais altos são vistos como fator de suporte para o real, líder global de desempenho no acumulado de 2022, já que tornam a moeda mais atraente para estratégias de "carry trade" --que buscam lucrar com diferenciais de juros entre duas economias. Esse aspecto é atribuído por muitos como o responsável pela desvalorização de quase 16% do dólar no ano, já que, enquanto a taxa Selic está em dois dígitos, os custos dos empréstimos em muitos países desenvolvidos seguem em patamares próximos de zero ou até negativos.
Embora siga em território profundamente negativo no ano, o dólar teve alguma recuperação em relação às mínimas do período, depois de chegar a fechar o pregão do dia 4 de abril em 4,6075 reais, menor patamar em mais de dois anos.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, disse à Reuters que a devolução das perdas do dólar em relação às mínimas de 2022 reflete uma percepção equivocada sobre o ingresso de recursos no país, num contexto de falta de dados sobre o fluxo cambial em meio à greve dos servidores do Banco Central.
Ele afirmou que o desmonte de posições em títulos prefixados por parte de agentes estrangeiros mais cedo neste ano levou muitos investidores à percepção de que havia muito dinheiro sendo direcionado para outros ativos brasileiros, o que derrubou o dólar "muito além do que precisava". Quando foi retomada "a posição em LTN, consequentemente, essa percepção de fluxo se esvaiu", o que devolveu algum terreno à moeda norte-americana.
Sanchez disse que o dólar tende a voltar para o patamar de 5 reais, já que a fundação macroeconômica do Brasil --marcada por incertezas fiscais-- "segue a mesma", enquanto, no exterior, o endurecimento da política monetária por parte do Federal Reserve tende a ofuscar o apelo do "carry" do real.
O banco central norte-americano já indicou que várias autoridades são a favor de aumentar os juros em doses de 0,50 ponto percentual ao longo dos próximos meses e começar a reduzir suas enormes participações em títulos, à medida que a inflação já alta é alimentada pelas consequências da guerra na Ucrânia. Em março, o Fed elevou os custos dos empréstimos pela primeira vez desde 2018, em 0,25 ponto.
Campos Neto disse nesta segunda-feira que uma aceleração no ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos pode ter efeito sobre países emergentes e reverter fluxo de investimentos para essas nações, principalmente se a inflação continuar surpreendendo para cima.
Nesta segunda-feira, investidores monitoravam, além dos próximos passos do Fed, as perspectivas de afrouxamento da política monetária da China. Dados de inflação mais altos do que o esperado na segunda maior economia do mundo podem limitar a capacidade do país de fornecer estímulos aos mercados financeiros e à atividade, que tem sido baqueada por lockdowns de combate à Covid-19.
O índice do dólar contra uma cesta de pares fortes subia 0,1% nesta manhã, próximo da marca de 100, que superou na semana passada pela primeira vez em dois anos.
Na última sessão, na sexta-feira, a moeda norte-americana spot fechou em queda de 0,61%, a 4,7118 reais, embora tenha avançado 0,96% na semana.
Fonte: Reuters